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As cartas de Rosa Luxemburgoby Antonio Ozaí da Silva |
A obra da revolucionária Rosa Luxemburgo, traduzida diretamente do alemão (por Isabel Loureiro, Mário Luiz Frungillo e Stefan Fornos Klein) e do polonês (por Bogna Thereza Pierzynski, Grazyna Maria Asenko da Costa e Pedro Leão da Costa Neto), organizada e com notas e revisão técnica de Isabel Loureiro, foi lançada pela Editora UNESP em 2011. Os Textos Escolhidos, volumes I e II, abrangem os escritos de Rosa Luxemburgo no período 1899-1914 e 1914-1919. O volume III apresenta uma coletânea de cartas de Luxemburgo, escritas antes e depois da I Guerra Mundial.
Embalado pela leitura da biografia de Rosa Luxemburgo, escrita por Elzbieta Ettinger (1989), inverti a ordem e comecei a ler pelo Volume III. O intuito foi conhecer mais profundamente a ‘outra’ Rosa Luxemburgo, o ser humano, uma mulher, nas palavras de Isabel Loureiro, “fascinante, sensível, sonhadora, profundamente ligada à vida – mas sem medo de morrer –, pronta a consolar os amigos, apaixonada pela natureza e as artes, uma intelectual sintonizada com a vida cultural do seu tempo. E também uma mulher divertida, irônica, cuja língua afiada não poupava ninguém, nem sequer a si mesma” (p. VIII-IX).
De fato, a cada carta lida confirma-se o perfil delineado pela organizadora deste volume e realiza-se o objetivo da publicação. A seleção das cartas publicadas enfatizam o caráter pessoal e revelam aspectos poucos conhecidos dessa mulher revolucionária e teórica marxista judia-polonesa-alemã:
“Estas cartas questionam o estereótipo da militante revolucionária sem direito à vida privada, unicamente dedicada a forjar um futuro melhor para a humanidade. Rosa é materialista o bastante para se jogar sem concessões na embriagues da vida, aceitando apaixonadamente alegrias e dores como parte de um mesmo conjunto. Mas, acima de tudo, somos tocados por sua vitalidade, algo que sempre chamou a atenção dos comentadores: reprimir o desejo de ser feliz não era com ela. Como Korolenko, romancista russo que traduziu na prisão, Rosa pensava que “o homem é criado para ser feliz como o pássaro para voar” (p. XI).
Na correspondência com Leo Jogiches, com Constantin (Costia) Zetkin, Paul Levi, Hans Diefenbach, Sonia (Sophie) Liebknecht, Luise Kautsky, Clara Zetkin e Mathilde Jacob, revelam a condição humana, limites e potencialidades, de uma mulher geralmente mais conhecida por seus textos clássicos e sua história de militância na social-democracia alemã-polonesa e na Internacional Socialista (II Internacional). A leitura das suas cartas nos remete ao contexto social e político da época, aos dilemas dos que persistiram nos caminhos da revolução. Mas, sobretudo, nos permite refletir sobre o humano demasiado humano dos que almejam transformar o mundo.
Com efeito, tendemos a racionalizar e considerar os textos políticos e teóricos em sua forma – a mensagem em si – e desconsideramos a vida que respira e pulsa, o ser humano concreto que pensa e sente. De certa forma, tendemos a fazer uma espécie de assepsia que anula a necessidade de compreender o ser humano que abriga as idéias e pensamentos materializados em textos, livros, etc.
A leitura das cartas de Rosa Luxemburgo é um exercício humanizador. Ainda que dirigida a outros, em muitos momentos parece que ela os fala diretamente. Os contextos históricos são diferentes, mas os sentimentos humanos permanecem inalteráveis. Ler Rosa Luxemburgo é também uma maneira de tentar compreender a existência humana, a complexidade e o significado mais profundo de ser-no-mundo!
Referência
ETTINGER, Elzbieta. Rosa Luxemburgo – Uma vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1989.
* Resenha: LOUREIRO, Isabel. (Org.) Rosa Luxemburgo: Cartas – Volumes III. São Paulo: Editora UNESP, 2011 (398 p.). Publicada originalmente na REA, nº 135, agosto de 2012, disponível em http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/18163/9580
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Todos os dias são dias masculinos e femininos, mas é justo que haja um dia dedicado a relembrar o episódio que levou à morte 129 mulheres, fechadas num barracão em uma fábrica de Nova York, em 1857, pelo simples fato de reclamarem melhores condições de trabalho. Foram trancadas lá dentro e atearam fogo, matando-as.
Mas a violência contra a mulher perdura, com escassos avanços e muitas mentiras, inclusive a da emancipação. Estão emancipadas para trabalhar mais ganhando menos, e gastando mais (consumindo) nesse sistema que vive do lucro e do engodo, além de terem seus corpos mercantilizados pelos novos mercadores de escravas e, muitas vezes, usadas como isca para vender produtos.