Riquezas:
Por onde anda o ouro de Minas?
Boa parte desse ouro e pedras saiu de Sabará e Vila Rica (hoje Ouro Preto),
mas também de outras Vilas, como São João Del Rei e Diamantina.
Por Paulo Roberto Santos*
De Divinópolis-MG
Para Via Fanzine
27/10/2012
Escravos com suas bateia garimpam o ouro de Minas Gerais, que se espalhou por outras terras.
Muita gente se pergunta por onde anda o ouro de Serra Pelada, no Pará, onde existiu um verdadeiro formigueiro humano e de repente não se fala mais no assunto. Outros se perguntam por onde anda a prata das minas de Potosi, na Bolívia, outro formigueiro humano de tempos idos e sobre o qual quase não se fala. E as riquezas dos Incas, dos Astecas e dos Maias?
A Capitania de Minas Gerais forneceu, principalmente na primeira metade do século XVIII, uma quantidade imensa de ouro e pedras preciosas que eram levadas para a metrópole portuguesa, contrabandeadas para França e Holanda, e sabe-se lá para que outros lugares, quando os galeões não eram atacados por piratas espanhóis, franceses ou holandeses ou por corsários ingleses.
Boa parte desse ouro e pedras saiu de Sabará e Vila Rica (hoje Ouro Preto), mas também de outras Vilas, como São João Del Rei e Diamantina. Às arrobas eram levadas por naus de guerra para Portugal, de onde iam quase diretamente para a Inglaterra, em pagamento das manufaturas que a Corte não produzia, mas consumia em larga escala.
Com o ouro das Gerais e parte da prata de Potosi a Inglaterra fez a sua revolução industrial. Juntando as riquezas extraídas de suas colônias e os créditos, a Inglaterra se fez a primeira na onda das revoluções industriais, seguida pelos Estados Unidos e outros países europeus. Tudo com base nessa economia baseada no saque e na depredação de outras terras. As mesmas que até hoje tentam se erguer pelo atraso produzido pela revolução industrial tardia, como ocorreu na Argentina, no Brasil e no Chile, além de alguns países asiáticos.
Potosi: prata retirada e enviada à Europa.
Mas, quem ainda mais sofre com isso são os países africanos. Perderam riquezas naturais e gente levada para outras terras como escravos para o trabalho nos engenhos de açúcar, nos garimpos, na lavoura, nos serviços sujos e perigosos e até para as guerras em troca de alforria, como na guerra contra o Paraguai e na Guerra de Sessessão, nos Estados Unidos, ambas ocorridas na década de 1860.
O ouro das Gerais, principalmente, lastreou o luxo da corte portuguesa no século XVIII. Nem mesmo o Marquês de Pombal, um déspota esclarecido, conseguiu fazer a Corte entender que era preciso mais autonomia para a nação, e que não se podia sempre comprar dos outros (da Inglaterra, no caso), pelo alto risco de dependência econômica daí advinda.
A Capitania das Minas Gerais esgotou-se pouco a pouco, junto com a paciência dos naturais, até que sedições e conspirações de brancos, índios e escravos começaram a nascer. O século XIX viu o país receber toda a Corte portuguesa de uma só vez (1808); talvez no que foi a maior migração forçada de uma elite em toda a história conhecida, pois cerca de quinze mil portugueses desembarcaram por aqui, apossando-se em definitivo do país. Os clãs políticos que ainda hoje temos são, em sua maioria, descendentes desses fugitivos das tropas de Napoleão Bonaparte.
Minas assentou-se em suas tradições e costumes, em seu catolicismo popular, santeiro, tornando-se um estado por onde a política vai e vem, em sua mistura de cores e crenças. Qualquer mineiro atento encontra um pedaço de sua história num raio de cem quilômetros, mas o ouro se foi e não faz falta. O que ficou é resto daquele que fez a Revolução Industrial inglesa. Falta-nos agora uma revolução cultural, que restabeleça um passado coerente e projete um futuro; uma história mais completa. Uma história com menos celebridades e com mais participação popular, como de fato aconteceu.
* Paulo Roberto Santos é professor e sociólogo, seu blog é http://animalsapiens.blogs.sapo.pt/.
-Fotos: Wikipedia.
- Extra:
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