O Carnaval de hoje é a modificação de festas ditas pagãs, bastante antigas. É a celebração da carne, do corpo, dos desejos humanos, da liberação das repressões e inibições, a hora de tirar as máscaras. A bebida alcoólica e outras drogas apenas liberam os freios morais, frouxamente mantidos em funcionamento ao longo do ano para, nesses poucos dias, se soltarem e liberarem o que já existe dentro de cada um. Afinal, tem gente que gosta da festa e tem gente que vai pescar ou ler um livro !
Se o Carnaval brasileiro deixou de ser do povo e, hoje, é um rendoso negócio para os investidores, isso é outra história. Se acabou se tornando uma forma a mais de manipulação do povo, de se fazer politicagem, como ocorreu com o futebol, isso também é assunto para outra hora. Mas, o certo é que o folião se libera, se solta, desembesta morro abaixo curtindo o que estiver diante de sí, sem muitas preocupações com segurança pessoal ou coletiva, com normas, leis, moralismos, ou com a própria vida. Catarse !
O Carnaval dos mais pobres e dos ex-escravos que assim se mostravam com um batuque que virou samba; o Carnaval das marchinhas que atraiu multidões naqueles tempos de uma certa ingenuidade feliz; o Carnaval que atrai os 'barões' do capital rentista, dos investidores, dos manipulares, da mídia de massa, dos contraventores, do crime organizado com ou sem colarinho branco; o Carnaval produto, negócio, que vende uma falsa imagem do Brasil, que ilude a uns e outros mostrando a mulher como isca para vender produtos e também, ela própria, negociável!
Como será o Carnaval do futuro? Haverá futuro para o Carnaval? O Carnaval brasileiro, considerado a maior ópera 'popular' do planeta, sobreviverá a essa avalanche de comercialismo e de violências? O povo vai recuperar o Carnaval para seu divertimento e encantamento? As cidades voltarão a pertencer às pessoas e não aos carros? Voltarão a ser lugares de morar?
- por Paulo Santos