Por: Inês Castilho - 12/09/2012.
Alternativa contemporânea ao sistema constrói valores e relações sociais opostas às dominantes. Por isso, é tão poderosa, diz Ricardo Abramovay
Entrevista a Inês Castilho
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Em meio a críticas e esperanças, pensadores e ativistas debatem como superar crise da representação e reinventar democracia.
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O enredo de “Vida de Galileu”, uma das grandes peças teatrais de Bertolt Brecht, desenvolve-se no início dos anos 1600. Em meio ao poder medieval das cidades-estados italianas e da Igreja, o precursor da Revolução Científica e seus discípulos estão inconformados com um velho mundo de servidões; de ideias e relações sociais seguras, porém estáticas e ultra-hierárquicas. Apaixonam-se pela pesquisa, pela democracia (“seremos ainda cientistas, se nos desligamos da multidão?”, perguntam-se) e pelas máquinas. Imersos numa ordem obsoleta, são obrigados a concessões (Galileu lamentará para sempre a mais dramática delas). Mas antecipam, em suas próprias vidas, valores que só se tornarão hegemônicos um século e meio depois.
É impossível não recordar Brecht, ao ler a entrevista que o economista Ricardo Abramovay concedeu a Inês Castilho, no âmbito da pesquisa “Políticas Cidadãs – Reflexões e Caminhos”, produzida pelo instituto Ideafix por solicitação do IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade). Num momento em que a humanidade debate-se diante de novos impasses – agora provocados pela crença absoluta na razão, pela exploração da natureza sem limites e por um sistema econômico que subordina todas as relações sociais ao dinheiro e ao lucro –, Abramovay sustenta que a saída já existe. Ela está presente em valores e lógicas que, embora contra-hegemônicos, são adotados por um número expressivo de pessoas e se alastram de forma crescente pelas próprias relações de produção.
Não se trata, esclarece o entrevistado, de um retorno ao “socialismo real”. Ninguém mais defende o controle direto, pelos Estados, dos meios de produção e das decisões sobre o que produzir e como trocar. A crítica e a alternativa são de outra natureza. Provavelmente, muito mais profundas, porque questionam as relações sociais e simbólicas associadas ao sistema – não apenas o grupo ou classe social que está em seu comando.
http://www.outraspalavras.net/2012/09/12/o-modo-pos-capitalista-de-estar-no-mundo/