Observando a sanha repressiva com que os movimentos sociais brasileiros são tratados e a negligência para com as legítimas demandas, segundo o roteiro burocrático estabelecido, como as petições populares pelo afastamento do presidente do Senado e do presidente da Comissão de DH e Minorias, vemos o quanto o Estado se afastou do povo.
Apesar da retórica democrática, a democracia não faz parte do cotidiano do povo brasileiro. Uma sociedade fortemente segmentada, onde uma mentira de farda vale mais do que dez verdades civis; onde o único rito permitido para legitimar os mesmos são as eleições periódicas com jeito de cartas marcadas, pois as oligarquias se perpetuam e os modos de governança também.
Ternos e gravatas, crachás, fardas e jalecos, carteiras 'especiais' e 'chefias', o amigo do patrão, gente com aparência de grande importância com pastas cheias de papéis cheios de nada. Mas, são eles que mandam! 'Manda quem pode, obedece quem tem juízo', diz o ditado popular. A Casa-grande e a Senzala se mostram presentes até na escassa evolução das leis, como a que equipara os trabalhadores domésticos aos demais trabalhadores, e o pessoal da Casa-grande já esperneia; afinal, onde vão arrumar os sucedãneos dos escravos?
Enquanto isso, o povo, o cidadão comum, fica no fogo cruzado criado entre os criminosos, as milícias e a polícia. Guerra urbana! Cinquenta mil homicídios em 2012.
O policial - em sua função guerreira -, é treinado para 'caçar' bandidos e não para proteger os cidadãos. Culturalmente ocupa o lugar do Capitão do mato, caçador de escravos. Os parlamentares ocupam o papel - e os lugares - da nobreza no 'antigo regime' brasileiro.
Ainda há uma longa estrada a percorrer para que se possa falar de uma república com valores republicanos, de uma democracia com mecanismos verdadeiramente democráticos, de uma sociedade com lugares para todos, de um país onde haja oportunidades reais, de um lugar onde a vida possa fluir sem medos.
- por Paulo Santos