por: Paulo R. Santos
“Cogito, ergo sum” (Penso, logo existo), escreveu o filósofo René Descartes no século XVII, refletindo na importância do conhecimento de si e da natureza que nos cerca, sem precisar apelar para explicações místicas ou teológicas. Descartes é o mesmo que nos propõe a dúvida como método, para que nos tornemos seres realmente conscientes.
Hoje os tempos são outros, mudaram e muito. A noção de 'poder de consumo' tornou-se tão enraizada que muita gente sofre de transtornos de compulsão por comprar o que não precisa. A sensação de consumir é uma forma de poder que nos foi introduzida pelo modelo atual de economia, que faz da sociedade - e de cada ser humano - um subproduto da própria economia. Existimos para consumir !
Pode-se até discutir se pensar é de fato existir, mas sem pensar a existência torna-se impossível. A vida passa a ser improvisada a cada dia; perde-se a noção de passagem do tempo e a visão de futuro se esfumaça. Poucos estão incomodados com isso. O que importa é o aqui e agora, e um celular novo a cada três meses !
É possível viver sem pensar sobre a vida? Sem pensar sobre como a vida acontece, isto é, sem filosofar ? Parece que sim. Boa parte das pessoas vive impulsionada pelos apelos comerciais, pelos hábitos impostos ou adquiridos sem reflexão, improvisando a vida no seu cotidiano.
Se existir é consumir, então a vida empobreceu até o limite do absurdo. Perdeu-se o senso de limites para certas coisas, principalmente para o que é realmente necessário para viver. O cantor argentino Facundo Cabral, assassinado em 2011, disse que o mais rico é aquele que menos necessita. É fato !
Mas, … como sair do círculo vicioso do consumo? Do consumir por consumir, mecanicamente ? De uma decisão pessoal a uma terapia, se necessário, passando por uma profunda revisão de valores. Talvez seja o caminho mais óbvio. Quem sabe ? Ou talvez a voz do povo seja a voz de Deus, … afinal, como dizem, caixão não tem gavetas !