"Quando você sentir que a saudade se aproxima com a mesma intensidade das ondas quando se quebram na praia durante uma tempestade, vem... Aqui a escada, mesmo velha, ainda há de sustentar teus passos, os nossos abraços e resonhar os nossos sonhos.
Nossas jabuticabeiras estão tombadas de doces frutos, tão doces que o sal do mar se envergonha de salgar as pequeninas conchas azuis.
O azul se espalha pelo céu e pelo mar, toma conta de mim. Nas noites em que a solidão chega e abre o ferrolho da porta, estica a rede e adorna os meus cabelos com pequeninas estrelas, eu desço pela encosta da pedra e caminho pela praia buscando no longínquo infinito uma vela, um ronco de avião, um apito de trem e o badalar de um sino, depois de todo esse carinho eu durmo sob o frio da madrugada.
Nos primeiros passos do amanhecer levanto-me enxugo a brisa que molhou a mesa, passo um café, abro a janela para melhor saboreia-lo e assim fico esperando você surgir nesse mundo perdido nas águas.
O silêncio combina com este casebre-castelo, com a cobertura de palha gasta pelo tempo e pela força dos ventos, com os versos que escrevo nas corroídas paredes que guardam o sentimento de amor que tenho pelo horizonte, com os matinhos que se penduram entre a pedra e o precipício, altar sagrado do risco, do amor e da fragrância que guardo em meu corpo como a mais linda lembrança de nossas utopias."
Deusa Ilário