Para falar de gente, de seres humanos, do bicho humano perfectível, apesar de tudo. Do Animal sapiens, mas a partir de agora do "Homo spiritualis", com sua fé e religiosidade muitas vezes confusa, gerando preconceitos, discriminações.

29
Jan 12
publicado por animalsapiens às 10:41

Crônica do Fórum Social Temático – E o Samuel não veio!

by Antonio Ozaí da Silva

Era 26 de janeiro de 2012. Mais um dia de atividades do Fórum Social Temático 2012, realizado em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo (RS). Ele consulta a programação e, destaca o tema Aldous Huxley e o Século XXI. Ele adora literatura leu algumas das obras do autor. Recorda da leitura de Admirável Mundo Novo, nos anos 1990, um livro que o marcou e que adotou com seus alunos nas aulas de Sociologia – também leu A Ilha e Contraponto. Ele não é um especialista no tema, mas apenas um leitor dedicado.

Após refletir sobre as opções que tem, ele decide e dirige-se ao local indicado. Ele desconhece como chegar à Assembléia Legislativa e pede informações. Por sorte encontra uma senhora que trabalha na recepção da instituição, onde deveria ocorrer a atividade marcada para as 9:00hs. No caminho, ela relata o drama que viveu: perdeu o filho, assassinado num assalto, e, dias depois, teve que passar por uma cirurgia de ponte de safena. Apesar de tudo, ela recuperou a alegria de viver e fala da netinha com paixão. Seu caminhar ofegante indica os efeitos de um coração sofrido e debilitado. A conversa é uma lição de vida.

Na Assembléia Legislativa ele descobre que o local da atividade foi alterado. Após ser informado e instruído sobre o trajeto, ele dirige-se à UFRGS. No caminho, ele observa a paisagem e pensa sobre a dramática história de vida da mãe que perdeu o jovem filho amado. Chega ao destino e procura saber a sala em que será realizada a palestra sobre Aldous Huxley. Com a informação em mãos, dirige-se à sala no 3º andar. Não é o primeiro a chegar e tão logo respondem ao seu Bom Dia!, perguntam-lhe: “Você é o Samuel?”. Não, ele não é o palestrante esperado, mas apenas mais um interessado no tema.

O tempo passa e nada do Samuel aparecer! A pergunta torna-se uma brincadeira com cada indivíduo que apareça à porta. A resposta é unânime: “Não, não sou o Samuel!” O interessante é que a maioria permanece na sala a conversar e esperar o Samuel. O tempo avança e fica cada vez mais nítido que ele não virá. Mas resta a esperança, quem sabe chegue a qualquer momento.

São 10hs e cerca de 30 pessoas ainda esperam pacientemente. A paciência tem limites. Então, um dos presentes toma a palavra. O jovem propõe ao grupo o início da conversa sobre o tema previsto; afinal, diz, estamos num espaço autogestionário. Todos concordam e ele passa a falar sobre Aldous Huxley e a obra (afirma ter lido 21 livros). Há outras intervenções, mas a maioria mantém a atitude de ouvinte. Um deles, ainda impactado pelo relato da mãe que perdeu o filho, fala sobre a experiência como leitor e propõe que, quem queira, fale sobre os motivos pelos quais escolheu esta atividade, considerando-se que o tema difere de outros tidos como mais comuns no Fórum Social. Sugere, ainda, que as pessoas se apresentem. Alguém reforça a proposta e o jovem propõe que cada um fale. Sentados em círculo, um após o outro se apresenta e expõe sua experiência. Aparecem, então, os leitores fãs de Aldous Huxley, outros que apenas leram Admirável Mundo Novo e foram impactados pela leitura, um ou outro que leu mais de um livro e demais interessados.

Todos permanecem até que o último fale e aguardam a fala final do jovem. Concordam que foi uma experiência rica, alguns até afirmam que talvez tenha sido melhor do que seria se o Samuel tivesse aparecido. Não se sabe, mas o fato é que foi um tempo compartilhado por indivíduos com o interesse comum de conversar sobre literatura e a atualidade do autor. O sentimento geral é que valeu a pena.

Desconhece-se o que aconteceu com o Samuel. Talvez tenha ocorrido algum imprevisto, ele deve ter justificativa. Não obstante, ninguém ficou a lamentar a ausência. O Samuel não veio, mas a atividade aconteceu. Teria sido diferente se o palestrante estivesse presente. Ficaram sem conhecer o Samuel. Ele não veio, mas foi uma manhã rica em aprendizado.

 

Ps.: Veja fotos do Fórum Social Temático 2012 em http://www.facebook.com/media/set/?set=a.347949655229693.87625.100000439853163&type=3

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publicado por animalsapiens às 10:38

28
Jan 12

Tempos de crise são difíceis por várias razões, e uma delas é a rapidez com que se deve adaptar a novas circunstâncias. Mas são também períodos ricos de experiências. Da primeira guerra mundial, revolução bolchevique, crise de 1929, segunda guerra mundial, as crises do capitalismo, as ditaduras geradas em nome de uma suposta 'segurança nacional', interesses hegemônicos e geoestratégicos, até hoje o demonstram. A crise atual, global em todos os sentidos, não foge à regra da agilidade de se interpretar corretamente a realidade em mutação e de agir em função do inesperado e do novo.

publicado por animalsapiens às 10:53

27
Jan 12

Fórum social mundial 2012

Confira programa e análise variada aqui e aqui.


http://www.oficinadesociologia.blogspot.com/

publicado por animalsapiens às 10:11
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26
Jan 12

O sociólogo polonês Bauman usa a palavra 'líquido' para designar tudo que se tornou volátil, fugaz, sem consistência, impermanente. Do medo ao amor. Afinal, por que as pessoas já não se comovem? Que endurecimento é esse que parece mostrar a humanidade regredindo ao paleolítico? Que barbárie é essa, naturalizada e banalizada, transformada em espetáculo por uma mídia de baixíssima qualidade ?

 

Por que a morbidez, o sadismo, o cinismo, a hipocrisia ganharam tanta relevância ? Por que o conhecimento perdeu o valor e o interesse, enquanto a aparência e a imagem ganham tanta importância?

 

Muitas perguntas, ... poucas respostas ...

 

publicado por animalsapiens às 11:04

25
Jan 12
publicado por animalsapiens às 18:39

24
Jan 12

Em algumas cidades (como Divinópolis e Belo Horizonte, segundo noticiário), os aumentos salariais autoconcedios pelos vereadores estão sendo inibidos pela mobilização popular. Ser impopular em ano eleitoral é má estratégia política, e como a história o demonstra, nada detém uma multidão em fúria. Por enquanto a indignação se alastra.

publicado por animalsapiens às 17:28

23
Jan 12

Souleymane Bachir Diagne: o grande pensador da mestiçagem

"É uma das estrelas em ascensão da filosofia, mas foi necessário atravessar o Atlântico para encontrar o reconhecimento. Entre Dacar, Paris e Nova Iorque, Souleymane Bachir Diagne impôs-se como o grande pensador da mestiçagem. Que ensine o islão com Bergson, a memória colonial com Derrida ou a identidade africana com Senghor, a hibridação das tradições é para ele o último recurso e a chance do nosso tempo" (tradução minha, CS). Aqui. Foto reproduzida daqui.


http://www.oficinadesociologia.blogspot.com/

publicado por animalsapiens às 12:52

22
Jan 12

“O amante”, de Marguerite Duras

by Antonio Ozaí da Silva

*A releitura de O amante**, obra clássica de Marguerite Duras, evidencia novos aspectos. Agora o “olhar” do leitor percorre o texto amparado numa chave interpretativa pós-colonialista.

A relação da “moça branca” com o amante chinês expressa situações que, a meu ver, são passíveis de universalização, considerando-se as dificuldades presentes – por exemplo, a idade da moça, as diferenças econômicas e a caracterização como prostituição etc. As reações do “amante” – fraqueza, choro, paixão e dependência da moça, etc. – não são especificidades determinadas pelo caráter colonialista que envolve os personagens. Tais sentimentos são próprios de qualquer ser humano. Isto pode parecer óbvio, mas foram aspectos que tive que observar devido à “chave interpretativa” que guiou o meu “olhar”.

Nesta releitura, observei aspectos que caracterizam valores e atitudes preconceituosas e colonialistas na relação da “moça branca” e sua família com o “homem chinês” e os nativos da Indochina, à época sob domínio francês. A certa altura do seu relato, a narradora se refere à sua infância, sob “o sol intenso” e em condições de miséria. Mas trata-se de uma miséria diferente das dos nativos:

“… não passávamos fome, éramos crianças brancas, tínhamos vergonha, vendíamos nossos móveis, mas não passávamos fome, tínhamos um empregado e comíamos porcaria, galinholas, filhotes de caimão, mas essas porcarias eram preparadas por um empregado, servidas por ele e às vezes recusadas por nós, podíamos dar-nos ao luxo de não querer comer” (p. 10).

Não fosse a referencia à cor, “éramos crianças brancas”, tal relato apenas demonstra um certo sentimento próprio do ser humano, embora possa ser condenável. Refiro-me à necessidade que alguns seres humanos têm em se sentirem superiores, ainda que sua situação econômica não o permita. É uma superioridade frágil, que se sustenta apenas pela vaidade e narcisismo.

Em O amante, a referência à cor branca não é mero acidente lingüístico. Neste caso, a cor é um diferencial a mais para refletirmos sobre o sentimento de superioridade. É interessante como a “moça branca” e sua família tratam o “homem chinês”. Ela se encontra praticamente no papel de prostituta e sua família se beneficia dessa relação diante do amante rico. Contudo, se colocam, por serem brancos, europeus e colonialistas, como hierarquicamente superiores. Isto também expressa a distinção entre o nativo e o colonizador.

A inferiorização dos indivíduos é também um dos principais fatores para a manutenção do domínio colonial. O racismo termina por justificar a dominação econômica e colonialista. Mesmo o fato do “homem chinês” ser rico não supera a concepção eurocêntrica e racista da moça branca e sua família.


* Publicado em Literatura Política & Sociedade, 01.09.2007, disponível em http://literaturapolitica.wordpress.com/2007/09/01/o-amante%E2%80%9D-de-marguerite-duras/

** DURAS, Marguerite. O Amante. São Paulo: Circulo do Livro, s.d.

Antonio Ozaí da Silva | 21/01/2012 at 22:36 | Categorias: leituras | URL: http://wp.me/pDZ7T-q4
publicado por animalsapiens às 10:08

21
Jan 12

Somente a igreja não percebeu

Da professora e educadora brasileira, Marilia Coltri: "Esse é um dos grandes motivos da Igreja Católica ter perdido tantos fiéis, a evangelização vinculada a um conformismo miserável, que prega a salvação somente no reino dos céus. As igrejas alternativas vinculam-se ao fato de que o cristão pode ser feliz nesse mundo terreno, elas são calcadas na prosperidade. Não é a miséria que eleva ao reino dos céus. A vida próspera deixou de ser pecado e o povo já sabe disso. Somente a igreja não percebeu." Aqui.


http://www.oficinadesociologia.blogspot.com/

publicado por animalsapiens às 10:10

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