Os posts não assinados são meus; os demais possuem os créditos e indicações das fontes !!
Ao que parece, depois de 40 anos de apatia, a militância estudantil, os intelectuais e os ativistas sociais somam forças para enfrentar os verdadeiros problemas da sociedade mundial. 'Não queremos reformas, queremos mudanças' parece ser um slogan comum a todos os envolvidos. 'Se não me deixas sonhar, não te deixo dormir', parece ser outro.
Enfim, tudo indica que a indignação está, finalmente, se convertendo em ações propositivas. Estados e Governos reagirão como de praxe, criminalizando e dando tratamento policial e judicial a essas mobilizações, numa visão míope, pois não lhes interessa ver a necessidade de dividir para sobreviver. Mas é irreversível. Mudanças estão ocorrendo em nível crescente e escala global.
A mídia conservadora leva o caso da Líbia à exaustão, concentrando as notícias sobre o líder e sem tratar com a devida seriedade do país. Fica parecendo que a Líbia se resume a Kadhafi, desprezando seus pouco mais de 6 mihões de habitantes, agora num país destruído. Agora que a Líbia foi vencida pelas potências imperialistas ocidentais, será fatiada e usufruída pelos falsos vencedores. Interesses político-econômicos determinaram todas as ações, e as 'razões humanitárias' se resumem a mais uma grande mentira; uma mentira global.
Read more: http://www.oficinadesociologia.blogspot.com/#ixzz1Wz0Zql2o
Se não for a retomada do comunismo, desse comunismo revisitado e revitalizado com novas experiências, com alma e as lágrimas da Primavera Árabe (tanto tempo depois da Primavera de Praga), pode ser um socialismo democrata de verdade; mas não como esse transgênico de 'direita' (PSDB) criado em laboratório aqui no Brasil.
Seja como for, algo novo está acontecendo e os jovens começam a despertar para as possibilidades de uma sociedade renovada e uma vida com perspectivas positivas, quando as drogas e os excessos de todos os tipos serão substituídos por uma vida moderada e com a paz possível. Isso não deixa de ser animador !!
Vejamos o que vem por aí!
Paulo S.
..................................................................
Por Ed Emery*, na edição inglesa do Le Monde Diplomatique | Tradução: Vila Vudu
Quando Toni Negri, agora aos 78 anos, escreve e fala, há sempre algum latim na sua fala profunda, mas o discurso é claro, disciplinado, lúcido e prazeroso. É como um abraço viril, muscular e poderoso, como tudo que sua formidável inteligência produz. Precisamos muito desse tipo de pensamento, porque os modelos esquerdistas do passado já não funcionam e algo novo tinha, sim, de ser inventado.
Seu livro Império não sai das listas de mais vendidos nos EUA, mas Negri não tem partido, nem organização, nem legiões de seguidores. Diz ele: “Sinto-me um pouco isolado, porque sou e sempre fui extremista. Quem queira fazer carreira, ou manter relacionamento ‘estável’ com o mundo da política ordinária evita envolver-se comigo.” Seu trabalho é teorizar as práticas passadas e as possibilidades futuras da revolução. Já há mais de vinte anos, escreve que as “classes” deram lugar à “multidão” como conceito e termo analítico. Seus adversários e detratores dizem que as massas não estão nas ruas, nas barricadas, aos gritos de “Somos a multidão”.
A Primavera Árabe pareceu bom momento para visitar Negri, uma vez que o que se vê nas principais praças de várias capitais em torno do Mediterrâneo é bem semelhante à multidão em ação, o que Negri disse em inúmeros artigos para vários jornais. Conversar com ele é diferente de ler o que ele escreve, sobretudo no meu caso, que traduzo seus escritos para o inglês.
Num trem para Veneza, no trevo ferroviário de Mestre, esse espaço paradisíaco de terra, vento e água, dou-me conta de que já fazem 40 anos que traduzo o que o Negri escreve. Vejo-me outra vez em Londres, no início dos anos 1970, ambos ativistas recém-saídos da universidade, vivendo numa comuna frequentemente visitada pela polícia. Tínhamos uma sala de impressão montada no porão (ainda sinto saudades do chug-chug da impressora Multilith 1250 Offset e do cheiro acre dos panfletos recém impressos). Um grande mapa da Itália na parede, porque a Itália era o coração do território da revolução da classe trabalhadora, para todas as fábricas da Europa.
Acabaram por concluir que éramos parte de uma conspiração internacional, o que, em certo sentido, éramos. Mostraram especial interesse por um documento que encontraram na minha gaveta, os papéis da Conferência da organização Potere Operaio (Poder Operário), que revolucionou o modo como entendíamos a luta de classes, pela periodização histórica das lutas trabalhistas, dividindo-as em ciclos. Negri foi uma das vozes no Potere Operaio que teorizou o “trabalhador-massa” e levou às lutas dos anos 1970s. Foi a fonte inspiracional que me pôs a traduzir tudo que ele escrevesse, embora meus esforços iniciais tenham sido descartados pela polícia e por patrulhas ideológicas.
A paisagem política era, então, a do “trabalhador-massa” empregado em sistemas de trabalho medido por dia, povoada por trabalhadores da indústria automobilística, estivadores, mineiros, operários da construção civil e seus sindicatos: um ciclo internacional de lutas trabalhistas capazes de derrubar governos. Tudo aquilo mudou. O capitalismo industrial baseado em classes trabalhadoras fabris deu lugar a um novo capitalismo, baseado em serviços financeiros, na economia digital, na produção e no comércio do conhecimento: “capitalismo cognitivo”. No território capitalista, já não se veem bancadas de ferramentas, mas manipulam-se, criam-se e valorizam-se dados e redes digitais. Facebook e Google são maiores que a General Motors. As novas massas, de “trabalho imaterial”, são a “multidão” de Negri.
Quando a onda de lutas fabris recuou, derrotada, a Itália entrou nos “anos de chumbo” (anni di piombo), o terrorismo político dos anos 1970-80s. Negri foi preso, com centenas de outros da esquerda autonomista (autonomia operaia) numa série de prisões em massa que começou dia 7 de abril de 1979. Passou quatro anos na prisão, a partir de 1979, depois em exílio na França e depois novamente a prisão, na Itália. Negri conta a história desses anos em Diario di un’evasione (1985, Hachette) e Pipe-line. Lettere da Rebibbia (2009, Feltrinelli). Com o fim do sistema soviético, havia carência absoluta de reflexão forte que explicasse o novo estado do mundo. Negri embarcou em seu maior trabalho, com Michael Hardt na Duke University, e publicaram Império (2000), Multidão (2004) e Commonwealth (2009).
A ideia do “comum”: Escapando ao bloqueio histórico a que a experiência soviética condenara o comunismo, Negri voltou à ideia do “comum” que sempre esteve na raiz daquele pensamento. Discute uma realidade gêmea de “commons”. Identificando a raiz da atual crise econômica, vê um “comum” capitalista, uma unificação e comunalidade (comunanza) dos interesses capitalistas, sobretudo nas finanças. “Às vezes, usando as palavras com excessiva imprecisão, há quem veja nisso ‘o comunismo do capital’. Aí está um ‘comum’ do qual temos de dar conta. E que temos de expropriar.”
O conceito fundamental da tradição do operaísmo italiano é que o capitalismo sempre mapeia seus desenvolvimentos segundo as lutas e a resistência dos trabalhadores. Hoje, como efeito das lutas do trabalho nos anos 1970-80s, há uma comunalidade no trabalho, caracterizada pela imaterialidade, pelos conteúdos cognitivos e pela comunicação implícita em todas as áreas do trabalho em mundo capitalista. Nesse quadro, é indispensável modificar o modo como pensamos a organização da mudança social. Nas palavras de Negri: “A revolução já não visa a tomar o Palácio de Inverno, como no tempo dos bolcheviques. Em vez disso, temos hoje essas formas de comum, essas formas de interação, a potência das redes, a pluralidade, a policontextualidade, que se vão expandindo cada vez mais amplamente”.
Mas como se pode organizar a fúria, a urgência e a agressividade que se viu no norte da África e na Espanha, Portugal e Grécia? Em Commonwealth, Negri discute essa questão.
Chama à fúria indignação e encontra raízes em Spinoza, que diz que na indignação descobrimos nossa força para agir contra a opressão. Mas o problema é como transformar esses momentos de fúria popular em instituições duráveis do poder do povo? Para Negri e seus companheiros, nessa fase do capitalismo todas as metrópoles tornaram-se arenas de produção e de resistência. Vivemos sob um sistema “biopolítico” (toda o campo da vida é político). A teoria revolucionária tem de ser desenvolvida no contexto biopolítico: inserir Marx no pensamento de Foucault. Assim sendo, qual a tarefa dos revolucionários? “Nossa tarefa é investigar o quadro organizacional das subjetividades antagonistas que nascem de baixo, baseados na indignação manifestada pelos sujeitos ante a opressão (…) a exploração (…) e a expropriação” (Michael Hardt e Toni Negri, Commonwealth).
Indignação talvez pareça conceito vago, mas, no instante em que escrevo, vejo pela televisão imagens da praça Sintagma, em Atenas, com milhares de manifestantes cercando o Parlamento grego, em protesto contra novas leis de “austeridade”. Numa enorme faixa, lê-se a palavra que simboliza o movimento: Aganaktismeni. Os indignados. Como, antes dos gregos, os espanhóis, Los indignados. Negri lá estava, de pleno direito.
Negri é sempre muito acessível. Nos anos 1980s, traduzi e publiquei um volume dos escritos de sua autoria, Revolution Retrieved (Toni Negri, Revolution Retrieved: Writings on Marx, Keynes, capitalist crisis and new social subjects (1967-83), ed. e trad. Ed Emery e John Merrington, Londres: Red Notes, 1983), em colaboração com John Merrington. Ainda tenho algumas cópias; da venda, recolho dinheiro que azeita as engrenagens da revolução.
Semana passada, descobri que o livro foi escaneado por “Libertarian Communists” e distribuído pela rede gratuitamente, o que explica que minhas vendas, de repente, tenham caído a zero. Pedi que tirassem de lá o meu livro, mas não tiraram. Portanto, como presentinho meu aos leitores, aqui vão as instruções para baixar e imprimir, gratuitamente: basta clicar em Revolution Retrieved e imprimir. O livro leva o título de “Negri — Revolt at Trani Prison”. Aproveitem.
Viajando para entrevistar Negri, também tinha planos de capturar algumas das histórias engraçadas que ele conta, de uma longa e profícua vida como filósofo, teórico, ativista, exilado e prisioneiro. O resultado são 13 curta-metragens que se encontram em YouTube; o primeiro é “The Revolt at Trani Prison” (1980) (Racconti curiosi no 13: “The Revolt at Trani Prison”.
A tragédia e as gargalhadas contêm um segredinho para a decifração do último parágrafo da trilogia. O coração e a alma da revolução, diz Negri, serão o riso. “Nossa risada é, afinal, a risada da destruição, a risada de anjos armados que acompanha o último combate contra o mal. Na luta contra a exploração capitalista (…) todos sofreremos terrivelmente, mas, seja como for, haverá risos de alegria. Nós os enterraremos por rir deles.” Ou, mais poeticamente, em italiano, Sarà una risata che vi seppellirà. Será uma risada que os enterrará…
www.outraspalavras.net
VIVIANE MOSÉ
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/viviane_mose.html
É capixaba e vive no Rio desde 1992. É psicóloga e psicanalista, especialista em “Elaboração e implementação de políticas públicas” pela Universidade Federal do Espírito Santo. Mestra e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora do livro Stela do Patrocínio -Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, publicado pela Azougue Editorial e indicado ao prêmio Jabuti de 2002, na categoria psicologia e educação. Organizou, junto com Chaim Katz e Daniel Kupermam o livro Beleza, feiúra e psicanálise (Contracapa, 2004). Participou da coletânea de artigos filosóficos, Assim Falou Nietzsche (Sette Letras, UFOP, 1999). Publicou em 2005, sua tese de doutorado, Nietzsche e a grande política da linguagem, pela editora Civilização Brasileira. Escreveu e apresentou, em 2005 e 2006, o quadro Ser ou não ser, no Fantástico, onde trazia temas de filosofia para uma linguagem cotidiana.
Como poeta, publicou seu primeiro livro individual em Vitória, ES, Escritos, (Ímã e UFES, 1990). Publicou, no Rio, Toda Palavra, (1997), e Pensamento Chão ( 2001), ambos reeditados pela Record em 2006 e 2007. E Desato (Record, 2006). Participou em 1999 do livro Imagem Escrita (Graal, 1999), coletânea de artistas plásticos e poetas, em parceria com o artista plástico Daniel Senise. É autora dos textos poéticos da personagem Camila no filme Nome Próprio de Murilo Salles, (2008). Tem alguns de seus poemas musicados, é parceira da cantora Mart’nália em duas músicas, “Contradição” e “Você não me balança mais”, que foram gravadas por ela e por Emílio Santiago, em seu último disco.
“Viviane escreve com o quê? Com o pé, marcando o compasso que vem de uma antiga melodia, geratriz da poesia. Com o ouvido, tirando de cada palavra, todos os tons. Com a boca, soprando sobre a palavra, um sentido único. Com o ventre, gestando o verbo no profundo, antes de dá-lo à luz. Com a mão, moldando maneira, sua forma última no papel. Com o sexo, regando as frases com o melhor de seu mel. / Pouco importa. Viviane escreve como os raros. Sua prosa passa por Rosa. Seu verso é feito do mesmo barro de Manoel. Viviane vibra cada sílaba. Seu ritmo é fêmeo, sem ser afeminado. É doce, sem ser melado. É duro, sem ser porrada. Viviane se recusa ao óbvio, ao fácil, à rima besta de um acalanto. Sua melodia plena, vem mais da imbatível respiração daqueles que cantam como falam, que dizem como olham, simples e mágicos como seus personagens plantados no chão. Viviane tem um caso com as palavras. na medida do impossível, um caso muito bem resolvido.” CHACAL
“A escritora utiliza o método filosófico de descascar as camadas da linguagem, como a esfoliar um leque ou folhear a nudez. "Eu tenho muitas coisas, quero dizer, tenho muitas camadas./ Uma camada de livros, outra de sapatos./ Tem a camada de plantas. E toalhas de rosto./ Tenho camadas de nomes e coisas que vejo." A racionalidade, quando exacerbada, aguda-se em penetração investigativa e poética, fotografando a esmo tudo o que a cerca, valorizando detalhes até então despercebidos. O acúmulo não permite enxergar o conjunto, assim o refazendo. Tão claro, que resulta distorcido. O que importa é a falta de foco. Ao relacionar gratuidades, produz maravilhamentos como "minha pessoa é muito mais fraca do que meus pés". “Viviane Mosé é uma grande poeta. Não precisa mais explicar sua poesia.”
FABRICIO CARPINEJAR
Vida/tempo
Quem tem olhos pra ver o tempo?
Soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele
Soprando sulcos?
O tempo andou riscando meu rosto
Com uma navalha fina.
Sem raiva nem rancor
O tempo riscou meu rosto com calma.
Eu parei de lutar contra o tempo. Ando exercendo instante.
Acho que ganhei presença.
Acho que a vida anda passando a mão em mim. Acho que a vida anda passando.
Acho que a vida anda. Em mim a vida anda. Acho que há vida em mim. A vida em mim anda passando. Acho que a vida anda passando a mão em mim
Por falar em sexo quem anda me comendo
É o tempo. Na verdade faz tempo, mas eu escondia
Porque ele me pegava à força, e por trás.
Um dia resolvi encará-lo de frente e disse: Tempo, se você tem que me comer Que seja com o meu consentimento. E me olhando nos olhos. Acho que ganhei o tempo. De lá pra cá ele tem sido bom comigo. Dizem que ando até remoçando