"Homem, conhece-te a ti mesmo, por ti mesmo" - Dizem ser esta a frase original que constava no Oráculo de Delfos, na antiga Grécia.
"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderiamos ganhar, por simples medo de arriscar". (Autor desconhecido)
Por várias razões, o filme 'As pontes de Madison' é uma bela produção. Primeiro por trazer para as telas uma sutil crítica ao moralismo burguês, tanto estadunidense, quanto de outras partes do mundo. Em segundo lugar, por tomar uma situação bastante comum como eixo temático e, principalmente, por colocar o dilema ético do amor, dividido entre o senso de dever, o autossacríficio, e a plenitude da alma realizando-se num profundo e maduro amor que (re)surge na maturidade.
Um fotógrafo de passagem por uma fazenda, descobre nas conversas com uma dona de casa a possibilidade de realização do amor sem paixão passageira, mas do amor amadurecido pelo tempo e pela experiência. Ao final do filme, aparece o momento da decisão entre o senso de dever e o amor possível. Não vamos tirar do eventual leitor desse blog a oportunidade de descobrir por si mesmo, todos os meandros desse belo filme que não envolve corpos musculosos e figurino caro, mas apenas duas pessoas maduras e amadurecidas vivendo um dilema comum e, talvez, o mais atormentador de todos.
Se 'o coração tem razões que a própria razão desconhece', como escreveu Blaise Pascal, eis uma boa oportunidade de pensar - muito - sobre o assunto !
- por Paulo Santos
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Ficha técnica:
The Bridges Of Madison County. 1995.
Ano de Lançamento: 1995
Gênero: Drama, Romance
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Clint Eastwood, Meryl Streep e Annie Corley
Produção: Warner Bros. Pictures, Amblin Entertainment
MORA NA FILOSOFIA
Para Sócrates a essência da filosofia é o conhecimento de si mesmo. Sem que se saiba de si, como saber dos outros? O bom julgador a si se julga, não é mesmo? Cristo santificou o axioma com a resposta que deu a Pilatos, quando perguntado: “O que é a verdade?” “Eu sou a verdade”, Ele respondeu, dando a entender que cada um de nós só pode verdadeiramente conhecer a si mesmo e a mais ninguém. “Eu sou eu e a minha circunstância” – é o que Ortega y Gasset acrescenta ao postulado socrático. A pessoa pode até insurgir contra o que o mundo faz de sua vida, pode indignar, espernear e tentar com ou sem êxito, mudar o mundo, mas acabará confirmando que assumiu a circunstância, mesmo repudiando-a. Queiramos ou não, temos que viver a partir dela. O samba“Mora na Filosofia”, de autor por mim desconhecido, tem lá seu significativo refrão: “Por que rimar amor e dor?”
Baruch Spinosa, o mais legível dos filósofos, disse mais ou menos assim: se você aliena a interioridade e cai nos braços da exterioridade, passa a viver fora de si, perde o amor próprio e pode ganhar o ódio dos outros, chegando até mesmo à beira da morte, dentro do perigoso rio das peripécias letais. O ciúme, como o remorso, é um valor pejorativo, um sofrimento degradante, que foge ao âmbito do apetite e do desejo. Monstro dos olhos verdes, como se diz. Desamor de si mesmo pelo super-amor de quem talvez não o mereça? Entre Heidegger e William James fica o paradoxo comportamental na modernidade: a metafísica (o ser) e o pragmatismo (o ter). Paradoxo que pode ser ilustrado pela velha história de quando Deus quer fazer um carvalho, leva vinte anos; e quando quer fazer um pé de abóbora, gasta apenas poucos meses.
Kierkegaard: “Grande é alcançar o eterno, mas ainda maior é guardar o temporal depois de a ele ter renunciado (...) . O prodígio foi Abraão e Sara terem sido bastante jovens para manterem acesa a chama do desejo: foi a fé inquebrantável no valor mais alto que manteve neles o desejo e, com o desejo, a juventude”. Theodor W. Adorno: “A masoquista cultura de massa constitui a manifestação necessária da própria produção onipotente” (ele falava da ruindade musical de nosso tempo) “e corresponde ao comportamento do prisioneiro que ama a sua cela porque não lhe é permitido amar outra coisa”. Friedrich W. Nietzsche (cito de memória): “A tendência da filosofia é tornar-se cada vez mais política e até policial”. Michel de Montaigne cita Cícero para dizer porque amava outra pessoa: “O amor é o desejo de alcançar a amizade de uma pessoa que nos atrai pela beleza”. Essa pessoa, que ele amava, quem era? Ele não sabia explicar o quanto amava a quem amava, senão dizendo “porque era ela, porque era eu”.
Jean- Paul Sartre: “O homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si próprio, livre porque uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer”. O progresso filosófico (como diz Richard Rorty) não é questão de resolver problemas ou penetrar em mistérios, mas sim, como disse Wittgenstein de “indicar à mosca a saída da garrafa na qual ela está presa”. Anaxímenes, da antiguidade grega: “Assim como toda ordem do mundo está bafejada de ar e brisa, nossa alma é como o ar que nos envolve e domina”. A verdadeira alegria é uma coisa muito séria, diz Sêneca, da antiguidade romana, que também disse: “Vive com os homens como se Deus estivesse vendo; fala com Deus como se os homens estivessem ouvindo”. E o brasileiro Sérgio Paulo Rouanet escreve: “Quanto a Freud, é impossível compreender a ressurreição contemporânea de velhas patologias como o fundamentalismo, o nacionalismo, o racismo, a agressividade interétnica e o terrorismo, tanto o Religioso como o de Estado, sem o auxílio de categorias freudianas como o narcisismo de grupo, a pulsão de morte, o medo de castração e a nostalgia da hora”.
Para concluir, algumas pérolas da sabedoria popular (traduzidas da erudita ou a erudita é que se valeu dela?): “Quem não tem couro, não faz trato com cuíca; quem toma a carapuça é porque lhe cabe; quem não pode com o pote, não põe a rodilha na cabeça; cumbuca de pimenta não perde o ardume; em terra de sapos, andemos de cócoras; quem fala do diabo, pisa no rabo; quem tem cabeça de cera não deve pô-la ao sol; Deus dá o toucinho, o Diabo tira o jirau; se tem formiga na escada, tem doce lá em cima; louvor em boca própria é vitupério; o prometer anda nas ancas do dar; quando se procuram porcos, até as moitas roncam; quem de mel se faz, as abelhas lhe lambem; quem o alheio veste, na rua o despe; terra movediça não cria limo.
Lázaro Barreto/Minas Gerais
"O mal está apenas guardando lugar para o bem. O mundo supura é só a olhos impuros. Deus está fazendo coisas fabulosas. Para onde nos atrai o azul? - calei-me. Estava-se na teoria da alma." (Guimarães Rosa, em Tutaméia)
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“A humanidade não representa um desenvolvimento rumo ao melhor ou ao mais forte ou ao mais elevado tal como hoje se acredita. O ‘progresso’ é meramente uma ideia moderna, ou seja, uma ideia errônea. O valor do europeu de hoje fica muito abaixo do europeu da Renascença; não há qualquer relação necessária entre evolução e elevação, intensificação, fortalecimento” (F. Nietzche, in o O Anticristo).
Trecho transcopiado de: http://www.outraspalavras.net/2012/03/31/o-progresso-conduz-a-uma-vida-melhor/