Vivemos tempos estranhos. Ouvir alguém dizer que não tem tempo nem para as coisas essenciais da vida torna-se cada vez mais rotineiro. Tanto faz se é mera desculpa para não assumir compromissos, não se envolver com preocupações ou problemas alheios, ou se realmente a administração do tempo se tornou um problema tão generalizado que não há mais espaço para coisas importantes para o equilíbrio emocional e espiritual do bicho homem. Diálogo, convivência, troca de ideias e opiniões, troca de impressões sobre a vida e o mundo, o estar perto, estar junto, falando ou simplesmente ouvindo. Essa maneira de levar a vida, pelo isolamento, é parte das causas do adoecimento coletivo que observamos na atualidade.
A piada do menino que pergunta à mãe se veio ao mundo através de um 'download' é emblemática ! Não estamos somente perdendo a capacidade de administrar o tempo, como também de selecionar prioridades e relevâncias, num mundo que nos envolve com engenhocas atraentes e nem sempre tão úteis ou importantes quanto dizem. É fato que a internet ajuda - e muito ! -, nesses tempos de distâncias e correrias por uma razão ou por outra. Contudo, é preciso ter em mente que a tecnologia ajuda a sermos mais eficientes, ... mas não melhores !
Tenho para mim que dois fatores pesam nesse comportamento que se alastra cada vez mais: o medo e sua parceira, a desconfiança. Esse casal transita de braços dados por todo o planeta, entrando e saindo livremente onde quiser. Domina e predomina em quase todos os relacionamentos de um modo ou de outro. Temos medo do outro pelo simples fato de ser o 'outro', o não-eu, o diferente de mim. Assim, a sensação de violência, a xenofobia, os preconceitos e o isolamento aumentam, e a paranoia também; as distâncias idem. A sociedade se dissolve e a convivência se evapora. Jovens se reúnem em volta da mesa de um barzinho e cada um fala com alguém pelo celular, mas não com quem está ao seu lado ou diante de si.
Valorizar o mundo dos afetos e recuperar o espaço da convivência não é tarefa fácil por vários motivos, mas a esperança e o esforço nesse sentido se impõem, pois o preço da solidão pode ser alto demais. Estar sozinho de vez em quando, em silêncio, ouvindo os próprios pensamentos e sentimentos não é somente importante, como é também necessário. Esse contato consigo mesmo é o que permite nos situamos melhor na vida e no mundo. A alienação ou a ignorância voluntárias não nos resguardam dos perigos da vida; pelo contrário ! É no convívio e no diálogo que encontramos reconforto e segurança.