Por: Paulo R. Santos
Há muita diferença entre velho e antigo. Um carro pode ser velho, se estiver mal cuidado, ou apenas antigo, se tiver recebido boa manutenção e, portanto, funciona como um novo, ou até melhor. Mas não é assim que somos levados a pensar. Há um esforço manipulador intencional que pretende nos levar a acreditar que tudo que tenha mais que dois anos de uso é velho, inútil, substituível, e que antigo é a mesma coisa. Pura manipulação de palavras e de ideias.
Há muitos modernismos que tornam nossa vida um inferno. Há outros que facilitam, se bem usados. Pessoas sensatas separam as coisas e lidam bem com uns e outros. Mas não é fácil ser moderado diante da profusão de produtos e ideias, de símbolos e marcas, de nomes e rótulos, num mundo onde cada um de nós é também um número.
Os defensores das boas coisas do passado podem ser facilmente confundidos com os conservadores, e não o são! Houve época em que o importante era ser; depois veio o ter, e agora prevalece o parecer. Em tempos de aparências, talvez até o retrato na parede não tenha muito significado mais. O filme ou livro mais recente é, necessariamente, melhor que o antigo ?
Desenraizados, sem saber o nome dos próprios avós, sem passado, sem referências, sem retratos na parede, sejam de familiares ou dos locais onde vivem ou viveram, sem história, as pessoas se tornam aéreas, volúveis, frágeis. O passado é mais que história, pessoal ou coletiva. O passado é lembrança, referência e informação.
No turbilhão do cotidiano não é fácil parar para pensar nos acontecimentos de ontem e dos dias passados; mais difícil ainda conhecer e pensar sobre a história local e regional, para situar-se, contextualizar-se numa sociedade que muda muito rapidamente, o que torna a existência de referenciais históricos ainda mais relevantes para a estabilidade pessoal.
A vida – ou podemos dizer no plural, as vidas – são feitas de somas. Da soma de experiências acumuladas, pensadas e sentidas. Ajudam nas novas decisões e evitam a repetição de erros. A biografia de cada um é única, incomparável e deixa marcas por onde passa. O que fazemos ou deixamos de fazer, tornam-se parte desse histórico pessoal com seus altos e baixos.
O passado não é uma lata de lixo da vida. É um repositório, um arquivo, repleto de experiências que se forem bem pensadas, serão úteis também (e talvez, principalmente) no presente. Diante disso, esse retrato na parede deve vir para a memória pessoal e coletiva, para reumanizar o ser humano, cada vez mais robotizado pelo comandos da vida moderna.