POR QUE TEMEMOS A REALIDADE E A VERDADE ?
por Paulo R. Santos
Porque a realidade é sempre maior do que nossa capacidade de aceitá-la e entendê-la; essa me parece ser uma resposta. A realidade - assim como a verdade -, incomoda. Mexe e remexe com o que está posto e estabelecido, principalmente com os dogmas. Os sempre confortáveis dogmas sobre os quais muitos se sentam e por ali ficam, a acreditar que nada mudará por que eles assim decidiram.
A prudência recomenda que olhemos para trás e vejamos o que nos ensina a história, já que – como dito e sabido -, quem não aprende com a história repete a lição. Crenças pessoais, religiões e dogmas, leis, padrões de beleza, costumes ou de consumo, visões de vida ou visões de mundo são, acima de qualquer outra coisa, criações humanas, dentro de um certo contexto cultural e num determinado momento histórico, quase sempre discutíveis.
A realidade assusta por que é maior que nós. A realidade por vezes nos afasta da análise e da reflexão por passar por cima de nossos interesses pessoais, de nossas pequenas e grandes vaidades, de nossos medos e temores sobre o futuro. Por isso é cada vez mais comum se evitar os pequenos e grandes problemas. Tendemos a renegar um dos maiores avanços da evolução humana: a linguagem articulada, a escrita e, portanto, o diálogo !!
A verdade nos assusta porque nem sempre está de acordo com o que gostamos e queremos que seja. A verdade é; ponto !! Nem o processo judicial mais bem ou mal conduzido poderá mudá-la ! Nem o melhor ator ou mentiroso contumaz poderá mudar-lhe sequer uma vírgula, quanto mais um ponto ! Nem o melhor sacerdote ou pastor, por mais verborrágico e convincente que seja, poderá alterá-la para sempre. Nem o melhor demagogo ou orador, político ou acadêmico, poderá fazer da verdade a sua verdade.
Quando verdade ou realidade incomodam, fugimos para as drogas, para as bebedeiras, para o barulho, para os locais ruidosos, para o não-pensar-sentir, para o mundo do faz-de-conta, para um mundo interior, ou para muitas outras possibilidades e rotas de fuga.
O medo de ter nosso mundo interior ou exterior devastado nos faz evitar, de um modo ou de outro, tanto a realidade que nos cerca, quanto a verdade que conhecemos ou intuímos. Talvez por isso 2012 seja um ano que atemorize tanta gente. Talvez não sejamos tão fortes quanto gostaríamos de ser para enfrentar e mudar certas coisas, ou pelo menos para reconhecer a existência desses fantasmas que nos atormentam. Talvez fingir que isso não está acontecendo … Talvez fazer de conta que tudo vai passar sem nos atingir … Talvez a ignorância voluntária … Talvez o silêncio, talvez …