Nossos jovens estão morrendo e se matando. O noticiário nos dá conta dos graves acontecimentos que envolvem jovens, homens e mulheres, dos quatorze aos vinte e oito anos em geral, em acontecimentos graves, como alcoolismo e drogas, acidentes, estelionato e homicídio, desprezo pelas mínimas normas de convivência e de respeito ao patrimônio alheio, tanto quanto pelas instituições.
Tudo ficou banal porque estamos ficando banais. Nos acostumamos com as más notícias e consumimos informações como se fossem produtos de um supermercado, incapazes de interpretá-las e de nos situarmos nesse mundo em rápida transformação. Valores, costumes, tradições, mitos necessários, tudo se perde na voragem do “nada vale a pena”. Não é de causar surpresa que a violência ganhe proporções nunca vistas.
No entanto, é preciso resistir. Cavar trincheiras com a fé lúcida, com concepções políticas mais amplas, com valores que possam renovar a sociedade e a existência humana, devolvendo à vida um propósito e um sentido. Nunca foi tão necessário manter uma permanente guerra de guerrilhas através de ações e intervenções pontuais, no entorno de cada um, de acordo com a capacidade de cada ser humano que ainda se mantém humano, sensível às belezas da vida e às esperanças das renovações que, sem dúvida, virão com o tempo.
O melhor caminho é o caminho mais longo. Essa foi a resposta dada por uma psicóloga em uma rápida entrevista pela tv, sobre como auxiliar nossos jovens, principalmente aqueles que estão envolvidos com drogas e com o submundo dos valores equivocados. O caminho mais longo é o da (re)educação. Longo porque é feito a conta gotas, no dia a dia de cada um, pacientemente corrigindo uma falha aqui e inibindo um mal impulso que se manifesta ali, com o rigor temperado com o amor.
Educar exige dedicação e determinação. Não se educa um filho de um dia para o outro. Os valores essenciais para a existência, são estabelecidos desde a vida intra uterina até lá pelos sete ou oito anos de idade, constituindo o que psicólogos chamam de “código de caráter”; aquele que será decisivo e determinante para a pessoa por toda a vida. Fase delicada da existência humana - a infância - que deveria merecer mais atenção dos pais e dos educadores, com todos os sacrifícios que isso implica.
Acontece que as preocupações com a sobrevivência tem levado pais e mães a deixarem os filhos sob os cuidados de terceiros e da tv ou do computador. Não se terceiriza a educação, no sentido amplo da palavra. Instituições de ensino cuidam da formação dos jovens, de sua preparação para a vida social e para o trabalho, mas somente os pais e responsáveis diretos pelas crianças e jovens podem prepará-los para a vida.
O que vem acontecendo no Brasil e no mundo, é que os valores essenciais para uma vida saudável têm sido subvertidos pelas ideologias do individualismo exacerbado, do consumismo desenfreado como sucedâneo da (pseudo)felicidade, do culto ao corpo, e da violência como método de convivência. Perde-se a noção do “outro” com seus valores próprios, suas escolhas e suas singularidades. A continuarmos assim e não haverá prisões suficientes.
Precisamos renovar as utopias e os mitos que nos sustentam e que alimentam a vida. Acreditar que um tipo de sociedade, melhor que a atual, é possível. Crer numa força superior que a tudo sustenta e governa. Buscar os elementos de convicção de que a vida não é um mero acidente da natureza, que começa com o nascimento e termina com a morte. Assim, o vazio interior que atormenta boa parte da humanidade poderá ser preenchido e a vida retomará seu curso, mais plena e saudável.