Para falar de gente, de seres humanos, do bicho humano perfectível, apesar de tudo. Do Animal sapiens, mas a partir de agora do "Homo spiritualis", com sua fé e religiosidade muitas vezes confusa, gerando preconceitos, discriminações.

02
Jul 11

Rua Ramalhete”

 

Por ser exato
O amor não cabe em si
Por ser encantado
O amor revela-se
Por ser amor
Invade
E fim!!...

(Pétala – Djavan)

 

O passado não existe, exceto no calendário. Por alguma dessas razões misteriosas, músicas como essa do Djavan reaparecem em nossa memória, trazendo mais que uma época, todos os elementos afetivos e modos de ver o mundo daqueles tempos. Os tempos mudam, a visão da vida também, e também as músicas, com suas melodias, letras elaboradas ou não, arranjos suaves ou verdadeiros terremotos de sons estranhos e de ruídos que não despertam sentimentos nem comovem, apenas nos deixam entontecidos.

 

Djavan expressou o amor tal como ainda era entendido até os idos dos anos 1980, num romantismo que lembra o século dezenove: denso e intenso. De lá pra cá, os afetos se tornaram mais superficiais, ...vastos e profundos como um pires. Coisas de fim de semana, sem tempo ou memória, apenas curtição sem pegadas ou marcas no terreno interior. Ou será que as marcas ficam para reaparecer mais tarde?

 

Sem querer fui me lembrar
De uma rua e seus ramalhetes,
O amor anotado em bilhetes,
Daquelas tardes.

(Rua Ramalhete – Tavito)

 

Rua Ramalhete evoca tempos mais anteriores, mais ingênuos talvez. Tempos de primário e colegial, quando a criançada mal sabia do mundo que ia além do fim da sua própria cidade. Ainda se escreviam Diários, as meninas tinham mania de passar cadernos para os meninos escreverem alguma coisa como “lembrança” dos tempos de convívio. Jeito malicioso e também delicioso de capturar sentimentos ! Será que esses Diários e cadernos ainda existem?

 

Ramalhetes eram os pequenos buquês de flores colhidas a esmo e entregues às 'eleitas' que os colocavam entre as folhas dos cadernos. Por ali ficavam, ou ficaram, desidratados e mumificados, mas como registro material de tempos que não voltam mais. O amor juvenil era mais ingênuo do que o amor adulto, presumindo que haja realmente alguma diferença.

 

Os tempos são outros e o sentimento estético mudou, não necessariamente para melhor. Os ambientes escolares já não trazem aquele pequeno glamour, e a criançada vive hoje afundada em imagens e sons que não compreendem. Não têm tempo, condições ou orientações para entenderem os próprios sentimentos e enfrentarem as decepções e frustrações impostas pela vida.

 

Essas lembranças não significam que as décadas passadas foram melhores, mas certamente foram diferentes e, sim, melhores em outros aspectos, talvez na relação humana. Esta, sem dúvida deteriorou e – generalizando -, o gosto estético de nossos dias, representado pelo tipo de programas televisivos, músicas e filmes, literatura e esportes, tipos de conversas e modos de convívio, o demonstram com sobra de argumentos.

 

Outras mudanças virão. A vida é dinâmica e nada é para sempre. Fim da sessão nostalgia. Ponto!

 

 

publicado por animalsapiens às 22:49

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